De repente há um sentimento de perda generalizado. Mas perda de quê? Do que é conhecido, previsível, “controlado”.
Este fenómeno que nos aconteceu (e que está ainda a decorrer) é de impacto global. Estamos todos, no planeta, de alguma forma, a lidar com um inimigo comum. Se por um lado pode dar um sentimento de comunidade, também faz sentir que não há por onde escapar. E cada um de nós experienciará de forma diferente os dois lados da moeda. Ambos são verdadeiros.
A única experiência que consigo comparar com o que tenho sentido ultimamente é o luto. Quando perdi pessoas queridas, um misto de tristeza e zanga se apoderaram de mim. Como pode o mundo seguir igual quando tudo mudou? Como podem os outros não viver esta dor? Como pode o dia amanhecer e anoitecer como antes?
É um pouco assim. Os dias, no geral, estão iguais com sempre estiveram. Amanhece, entardece e anoitece. E depois outra vez. As noites longas dão lugar a dias longos e depois o oposto. As marés fluem, as fases da lua sucedem-se, ritmicamente, há milhões de anos…
Eu, mera humana e recém chegada a este planeta, no alto da minha importância questiono: Como pode ser? Não entendes a minha dor, mundo? E afinal, dor e perda de quê? Da correria, do barulho, do muito…do contacto físico, da ilusão da liberdade, de toda a potencial (e por vezes enlouquecedora) escolha? Não sei bem como me sinto, na verdade. Em parte, uma satisfação pelo abrandamento geral da vida. A parte mais difícil é a sensação de limitação. Quando nos limitam algo, parece que se fica logo com mais vontade! Já os antigos diziam “o fruto proibido é o mais apetecido”.
Penso às vezes “Para onde ia eu hoje se pudesse?” Talvez a lado nenhum em particular, tantas foram as vezes que desejei ficar em casa, a ler ou a ver tv. Mas saber que não posso, ahhhh. Fica logo uma vontade daquelas!
Por tudo isto, ainda não sei bem como me sinto. Oscilo entre alguma zanga que sai sob forma de impaciência ou irritabilidade, e uma calma estranha com a entrega ao que quer que aí venha.