Em parte, e ainda bem, a rotina profissional não alterou drasticamente. Continuo a trabalhar com algum ritmo e isso ajuda a dar sentido e organizar o dia. Por outro lado, o tal tempo que andamos sempre atrás, o tal que virá (como um Messias?) se fizermos ou não fizermos uma série de coisas…não veio. E não veio porque é subjectivo. Não tem qualquer relação com o tempo físico pré estabelecido que os humanos definiram. Enganaram-nos de novo!
O que veio então, até agora? Uma nova rotina (mais caseira) com os velhos hábitos e as velhas dificuldades. O desafio continua e está pouco relacionado com o tempo. Emocionalmente, há um impacto que é sentido por estar a viver uma circunstância tão atípica. No meu caso, costuma vir com um certo grau de distanciamento emocional, que permite manter o funcionamento mas não elabora grandemente as emoções. É um distanciamento emocional de segurança, mas que às vezes se torna numa avalanche de emoções vindas de sei-lá de-onde!!!
Como já vou conhecendo este lugar, sei que daqui por algum tempo vou voltar a sentir com mais intensidade e aí sim, vou desorganizar-me um bocadinho, perder-me um bocadinho, até me encontrar de novo. Já conheço esse ciclo, suponho que não vá ser diferente desta vez…
Porém, dava por mim a pensar que estou de certo modo a funcionar nos serviços mínimos de tudo. Não experiencio plenitude ou satisfação imensa em grandes coisas, excepto, é verdade, em estar mais tempo com os meus filhos e gatos. Talvez isso, poder fazer a tal pausa de 10 minutos de trabalho para tira um cafézinho e em vez de o fazer sozinha no meu gabinete, a ver a Praça e as pessoas a passar, veja os meus filhos e os meus gatos a cirandar pela casa. Isso é, provavelmente, o momento mais reconfortante,
Não tenho tanta disponibilidade emocional para socializar como imaginei. Nem sempre tenho a concentração para ler tanto como desejei, nem sempre consigo dormir o tempo que gostava, nem sempre aproveito aquela hora “morta” da forma tão criativa como desejei, nem sempre cozinho refeições super nutritivas com idealizei, nem sempre me desligo das redes sociais como decidi. Mas aproveito cada cheirinho dos meus, cada abraço, cada oportunidade para tagarelar. Isso é tudo!
Olho para os miúdos e reconheço-lhes uma garra e capacidade de adaptação incrível! Os nossos gatos, que merecerão um post só para eles, em breve, são uma corrente de ar fresco no dia-a-dia. Vê-los brincar e dormir é fantástico! Como os gatos sabem aproveitar a vida!
O pior mesmo, não tem sido estar em casa. Até gosto, imagine-se! É não poder abraçar e beijar mais. Os meus pais, tios, sogros, primos, toda a família alargada com quem convivo tão frequentemente e agora, só à distância. Ás vezes penso, em momentos “Que se lixe!”, em abraçá-los. Mas não o faço. E aí dói. E separamo-nos rápido para doer menos.
Estamos todos em serviços mínimos, mas principalmente de afecto. Tiro o chapéu a todos os que conseguem mais, que estão realmente a tirar todo o sumo desta fase distópica. Eu não estou a consiguir. O melhor que consigo é preservar alguma energia e manter-me suficientemente perto, suficientemente disponível. Suficientemente clara e suficientemente profissional. Suficientemente… eu.