O fim de ano tem esse sabor. Uma sensação de perda do que já foi, uma renovação do que há de ser. Depositamos esperanças nesses 365 dias que aí vêm.
Para alguns, o novo ano trás consigo mais oportunidades. Para outros, é apenas o continuar de tormentas. Há ainda quem não lhe atribui sentido nenhum ou que por questões religiosas celebra o transitar de ciclo noutras alturas. Não é igual para todos, é certo.
Mas este 2021 parece ter uniformizado um pouco as coisas na medida em que todo o mundo se tem debatido com a pandemia. De certa forma isso une-nos e faz dissipar algumas diferenças – mas na realidade agravou bastante as diferenças. Porém, isso é outra reflexão. Para o momento presente quero dar enfâse ao que uniu e não ao que separou – talvez ainda resquícios de ambiente festivo?
Então, a pandemia une-nos. Une-nos o desejo de voltar a sentir “liberdade” (seja ela o que for para cada um de nós), de não ter medo de abraçar ou beijar pessoas (e logo nós, portugueses, tão tácteis!), de celebrar “como deve ser”, de viajar sem restrições. Une-nos o desejo de viver. Não sei bem se a pandemia trouxe mais ou menos consciência, afinal os problemas de muitos sempre lá estiveram e infelizmente continuam. Em março de 2020 todos esperámos que a lição aprendida nos tornaria mais humanos, mais preocupados com o planeta, mais justos. Mas somos… humanos. Imperfeitos, com uma capacidade de adaptação fantástica e… de memória curta. O mundo não mudou. Mas é possível que muitos de nós tenham feito ajustes, pequenas mudanças, quem sabe mais amigas de outros humanos e do nosso planeta… acredito que sim. Mas não da forma globalizada que auspiciámos em março. Inocentes e aflitos.
Não sei dizer se 2020 foi pior que outros anos. Foi desafiante e esses desafios não foram embora com as promessas de ano novo. Exigiu de nós. Muito. Mas mau? O que define o que é mau ou bom? Essa é uma definição tão subjetiva e circunscrita num determinado tempo. À distância, tudo pode parecer melhor ou pior do que quando vivido…
Uma lição importante, pelo menos para mim, foi o relembrar da finitude. Olhar para a morte (física e simbólica) como parte da vida, parte do processo de transformação. Olhar para o fim como parte interligada e não como algo separado. Afinal, essa lição está sempre aí – a tal de que apenas existe o momento, o agora e nada mais. A de um ciclo infinito de sucessões, de consequências. Não é isso o tempo? Sequências e consequências.
É então hora de aproveitar as manhãs frescas de inverno, cujos raios de sol sabem… pela vida! Aproveitar a sensação de novo, de potencial, de vontade de “agora é que é”.
Desejo-nos um ano de 2021 com uma história que nos dê vontade de recordar!